jOÃO PEDRO CAMPEÃOOOO!

Agora somos INTIMUS

Agora somos INTIMUS

Não temos mais segredos...

Não temos mais segredos...

Só nós dois!

Só nós dois!

Valeu pela visitinha!

Vc enxerga de longe?

Vc enxerga de longe?

Vamos rir um pouco?

Vamos rir um pouco?

Dá um tempo, André!

Dá um tempo, André!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Escritora ubatubense é empossada como membro da Academia Valeparaibana de Letras e Artes

















A escritora ubatubense Silmara Retti, entre outros artistas da região, foi empossada como membro da Academia Valeparaibana de Letras e Artes (AVLA). O Cerimonial de Posse aconteceu no plenário da Câmara Municipal de Taubaté, no último fim de semana e contou com a presença do presidente da AVLA, Alberto Mazza, Grupo Taubatchellos, Camerata de Violoncelos da Escola Maestro Fêgo Camargo e Sandrinha Sargentelli, embaixadora do Samba no Brasil.
Silmara Retti representou a Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba, em nome do presidente Pedro Paulo Teixeira Pinto e Prefeitura Municipal de Ubatuba. Ela recebeu o título de Delegada Municipal, para representar a AVLA no município, tendo como objetivo realizar mostras de teatro, de músicas, poesias e poemas; montagens de Salões Municipais de Belas Artes e exposições de trabalhos acadêmicos; além de reuniões com autoridades e com a comunidade.
“Esta conquista é muito importante e de grande dimensão, pois teremos a oportunidade de unir os talentos de Ubatuba com os talentos regionais, através de encontros e festivais. Como delegada de Cultura da AVLA e coordenadora do Grupo Setorial de Literatura da Fundart, pretendo destacar o trabalho dos nossos artistas, para que sua arte seja projetada em outras esferas”, explicou Silmara.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Taubaté 30 de Agosto de 2010


A Academia Valeparaibana de Letras e Artes tem a honra de convidar a Escritora Silmara Retti , de Ubatuba à comparecer no próximo dia 26/09/2010 às 19 horas na Câmara Municipal de Taubaté para participar da Sessão Solene e acertar os detalhes de sua cerimônia de posse como Acadêmica que acontecerá neste mesmo local.
A escritora ocupará a cadeira nº 48 que terá como Patrono “José Haroldo Mattos”.

sexta-feira, 28 de maio de 2010






















Eu precisava falar também, mas ninguém se interessava pela minha desventura.Precisava falar que me sentia só e abandonada.Queria um amigo; o meu amigo que havia se transformado em inimigo.Odiava o Amor! Gostaria de jogá-los num paredão e gritar:
- Pro inferno o Pedro, o Chico e todos vcs.Como poderei acabar com a vossa solidão se sou orfão de pai e mãe? Se estou vazia e mesquinha? Pobre de nós, urubus , que se alimentam do sofrimento alheio.Enquanto há lixo só nos resta a carniça, porque vivemos da própria.





















Levantei os olhos perdidos naquele batalhão de saúde que dançava alucinadamente, rebolando por todos os cantos do corpo no ritmo do chicléts.Eu estava numa danceteria pela primeira vez e toda a minha energia se dilacerava enquanto ele morria e eu me matava por dentro.Nossas músicas e nossas dores sendo interpretadas por personagens alheios a nós.
Fazia três meses que não o amava mais.Não merecia mais sofrer!
Continuarei sua como uma viúva que se satisfaz apenas em recordar o passado vivo, mas que conserva para o mundo a sua virgindade sepucral.Tantas caras e caretas num bonito mundano enquanto éramos tristes, pobres e feios na Fita! Feios por não possuírmos mais o brilho da vida.Última música da noite e ofereci a ele.Ele quem? Perguntaram.Um Zé Ninguém que vivia muito distante do planeta Terra.Alguns riram achando que eu estava bêbada.
- Ofereço esta música para um voador do espaço...
Nisso me empurraram na multidão e fui confundida com o som na pista muito louca.
Saí pela rua sozinha na noite fria da Mooca.Usava uma mini saia, meia fina,bota com salto e um casaco preto.Só faltava beber.Só faltava fumar...Parecia uma meretriz sem coração, vazia de sexo e á procura de amor.
Queria minha mãe.Um nojo daquela gente dançante!Quase vomitei.Nojo do caminhão, da fábrica, da minha impotência diante de tanta loucura...Deus era mau.Voltei pra casa, escorreguei na porta e dormi no chão.













Como estaria vc? Talvez estivesse feliz em se encontrar incluído na lista dos psicopatas da vida .E eu quero mais que vc se expluda dentro daquela cumbuca de debilóides, com sua camisa de força florida com golinha role.O Haldol e vc...Pro inferno os dois!Cuspo em sinal de protesto.Droga de droga que vc se tornou.E me ignora como se eu fosse igual.Odeioooooooooo vc! Morra antes que me mate.




















Precisava lhe escrever algo.Faz exatamente dois meses que não percebo o seu corpo no meu.Um milhão de minutos que não te toco.Sua alma penada me persegue no espelho, no quarto escuro e na imensidão da nossa rua desencantada de saudades.Miragens de uma apaixonada.Eu queria te encontrar e dizer o que me espanta neste momento...que amo ainda mais loucamente um louco!






















Os dias foram passando nos corredores congelados daquele hospital onde não batia sol e onde a esperança não visitava ninguém.E eu no mesmo portão de casa olhando a mesma rua e imaginando o que estaria fazendo tão distante do mundo.
Fazia um mês que não nos víamos.Um mês que estava sendo alimentado por calmantes excessivos; por delírios extremos e por caras monstruosamente deformadas num estilo bicho e um tanto débil de ser.

quarta-feira, 26 de maio de 2010



















Conversava com as pessoas como que se estivesse dopada.É difícil aceitar a fome, a sede e a carência vital.Ele era a minha fonte geradora de energia e estávamos morrendo sem saber o motivo.Era tudo muito confuso...De repente Fábio passou a me odiar.Procurei seu pai na porta da fábrica de estôpa e ele parecia muito triste:
- Seu José, o que tá acontecendo?
- Não sei.- seus olhos lacrimejavam.
- Ele nem me olha...Finge que não me conhece.
- Ele vai ser internado num sanatório.
- Não brinca! Não, não! - segurei sua mão:- Não faça isto.Por favor!
Ele começou a assobiar, disfarçando a dor.
- Eu vou fazer o que?
- Me deixa falar com ele.
- Ele não fala com ninguém.
E virou as costas para não desabar na minha frente.

segunda-feira, 24 de maio de 2010














Fiquei por quase uma hora espionando atrás do muro, pois sabia que seus pais iriam sair de carro.Era quase meia noite e todos os sábados sua família ia jogar bingo no Juventus.Descí a viela correndo com o coração na boca.Deveria estar sozinho.Sua casa parecia um breu, mas com certeza estava lá dentro apodrecido em algum lugar.Disparei a campainha.Nada.Empurrei o portão da garagem e ele estava sentado em frente a TV desligada.Meti a mão no vitrô da sala.
- Fábio, abre aqui...por favor...Sou eu, a Silmara.
Ele nem se mexeu.Comecei a gritar o seu nome:
- Fábioooooo, abre pra mim.Pelo amor de Deus.Fala comigo.
Ele tapou os ouvidos com as duas mãos, mudo.
Me olhou devagarinho como uma criança assustada.
- Deixa eu te ajudar...Eu só tenho vc! Eu só tenho vc...- escorreguei o corpo na parede.- Não me abandona vc também.Eu tô com medo! Meu Deus!!!
Eu sacudia as grades numa dor sem fim.
- Vai embora.- murmurou.
- Por que? Me fala...
- Eu tô doente.Vai embora.
Tapou os olhos, virando o rosto para a outra escuridão.
Subi a viela correndo até a padaria.Estava descabelada, descalça, desnuda...Comprei algumas fichas telefônicas e o orelhão engoliu quase todas.Vai, atendeeeee!Após muitas tentativas ele me atendeu.Reconheci pela respiração ofegante.
- Fábio, não desliga.Vc vai me ouvir.
- Hum.
- Por favor, um dia vc disse que me amava, lembra? Talvez fosse até brincadeira sua, mas eu te amo! Eu te amo! Eu te amo e isto é sério.Hoje vc me mandou embora da sua casa, da sua vida.Se amanhã precisar de mim...eu tô aqui.
Não consegui falar mais nada e ele desligou.

















Estava morrendo.Emagreci 05 quilos e a anemia me devorava por dentro; me entreguei numa cama, tremendo de amor e ódio.Queria vê-lo a qualquer preço mesmo sabendo que estava barbudo, gordo e monstruoso.Todos os dias lhe esperava na janela.Aos poucos minhas esperanças foram se desfazendo dando lugar ao desespero.
Procurei dentro de mim as palavras mais exóticas e os sentidos mais clássicos para lhe escrever uma carta.Queria que as letras se confundissem com o os ladrilhos sentimentais que se dilaceravam dentro de mim.Pedi que o carteiro lhe entregasse em nome do amor.
- Por favor, é para o Fábio.Diga que foi a Silmara quem mandou.Vc faz isto por mim?
- Claro.Fiquei sabendo que ele está doente...meio deprimido...
- É, acho que sim.Qualquer coisa fale que estou em casa...sozinha.
Corri até o espelho e me arrumei toda germinando vida na alma.Era uma moça bonita de olhos expressivos, sobrancelhas grossas, lábios carnudos e totalmente virgem.Chamaram no portão.Não consegui reconhecer a voz.Deveria estar gripado ou...com vergonha.
- Entra.Pode entrar.- sorri.- Entraaaaa!
Nisso o carteiro sorriu sem graça, coçando a cabeça.
- Ele mandou dizer que agora é tarde.Nem abriu o envelope.Mandou devolver.Tá aqui, ó.
Por que, meu Deus? Tarde por que??! A gente tinha todo o tempo do mundo! O infinito e o para sempre eram totalmente nossos...se ele quisesse, é claro.

O Ódio é o álibi daqueles que odeiam por amar!

















Vendi o pouco que tinha para lhe comprei um LP que continha as nossas melhores músicas e pedi que a molecada entregasse na sua casa enquanto esperava o agradecimento...
- Dessa vez eu me superei! Logo logo ele vai entrar por aquela porta me pedindo em casamento.
Coloquei uma camisolinha transparente e fiquei deitada no sofá como que se não quisesse nada com nada..Eu já estava com quinze anos e já era uma quase mulher! Seria a nossa primeira noite de amor, a mais esperada de todas só que Fábio nunca apareceu.Quebrei os copos da pia gritando de ódio:
- Filho da boa mãe! Ingrato! Safadooooo!
Os meus pais acordaram com o barulho:
- Vc tá louca?- minha mãe me sacudia.
- Me deixa.O que vcs sabem sobre o amor?! Nossaaaa, com vcs se amam, né?
- Do que esta menina tá falando, hein Oscar?
- É uma louca varrida.Merece um tabefe no meio da cara, isto sim.
Bati a porta do quarto, do único quarto e urrava de paixão!
- Um dia eu vou me vingar de vc, Fábio.Ah, se vou! Vc não me conhece...Vou te matar dormindo...Vou te botar um chifre daqueles, seu idiota! Eu juro.
No outro dia logo cedo dei um cruzeiro para o moleque ir buscar o LP de volta:
- Vc diz assim:a Silmara pediu de volta o presente que te deu, seu gay.
- Chamo ele de gay? E se me bater?
- Não, não precisa chamar ele assim.Deixa que Eu chamo.Só eu.
Fiquei andando de lá pra cá.Será que ele entregaria pessoalmente? Corri no espelho e passei um batom vermelho.Logo o moleque voltou com o disco na mão.
- O que ele te disse?
- Nada.
- Que paspalho.Não disse nada, é?Espera aí...
Fui até a minha vitrola e aumentei o som no último volume para que escutasse do seu quarto.Eu chorava e ria ao mesmo tempo.Depois arranhei com as próprias unhas frente e verso do disco.Deixei todinho riscado em forma de X e Z.Cuspi em cima.Limpei as lágrimas com o braço.Mordi os lábios até sangrar.
- Volta lá e diga que mudei de ideia.Que agora é todinho dele.
- Ah, não vou mesmo.
Mexi no bolso do shorts e não tinha mais um tostão.Tirei o anel do dedo e ordenei:
- É pra tua mãe.Pode ficar.
Uma revolta me invadiu por dentro e o amaldiçoei mil vezes.

Te odeio por todas as lágrimas que me inspirou
por todas as palavras que engoli
por todos os sonhos que sonhei
pelo tanto que te amei!
Um dia fui feliz...Hoje, morri!




















Da janela que tinha no fundo do quintal de uma vizinha dava para eu enxergar o seu quarto, sua cama e sua vida Todos os dias á tardezinha pedia para que me deixasse ficar ali,quieta, observando tudo.Debruçava com muita dificuldade, ansiosa para lhe ver.Quando ele percebia que estava sendo observado, cobria a cabeça com o cobertor xadrez.O que estaria acontecendo com ele? Com nós? Apenas uma vez levantou-se da cama e foi até a janela me olhando com serenidade.Nem uma palavra.Nem um adeus! Estávamos nos perdendo.





















O caminhão apontou na rua e tremi de medo porque um monstro cabeludo havia dominado o seu corpo e um demônio o pensamento.Sua expressão era de muita dor.Eu também não era mais a mesma.Ficava tentando esquecê-lo o tempo todo.Morremos no último beijo.E éramos tão vivos! Enxergava o seu rosto em todos os cantos da cidade e fechava os olhos quando sua figura me envolvia no espelho.

domingo, 23 de maio de 2010


















Eu ia entrando no bar para comprar iogurte quando nos encontramos na porta.O tempo parou e eu só pude lamentar.Tentei falar alguma coisa, mas ele sumiu antes que pudesse dizer o seu nome.
Depois as figuras foram se embaralhando pela rapidez do ônibus, o semáforo, a voz da professora explicando matéria nova... a saudade que me deixava cada vez mais doente.Doente de amor!















Eu voltava do colégio a noite com a mochila amassada no peito quando o moço chegou de carro se jogando em cima de mim.Brecou nos meus pés e nos olhamos furiosos, dum jeito monstro.Começou a chover.Fingi nem sentir todo o amor que me devorava por dentro.Abaixei os olhos, indo embora.No outro dia minha vizinha sentou ao seu lado no degrau da fábrica e perguntou sobre nós:
- Acabou tudo.- respondeu sem levantar o rosto.
- Acabou por quê, Fábio?
- Não quero mais saber de nada nesta vida.Acabou tudo pra mim.
Era o começo do fim.Nisso enxugou a lágrima que escorria do canto dos olhos.
Começamos a nos evitar e passávamos em calçadas opostas.Nem um sorriso ou um gesto, nada! O nosso olhar era pesado e cheirava a morte. Queria tocá-lo e permanecer grudada para sempre.Descí a rua gritando o seu nome.Quatro anos me sufocavam e precisava lhe contar tudo o que sentia por ele.Implorei que parasse, porém limpou o rosto suado e me deixou sozinha no portão.
- Pelo amor de Deus, Fábio.Não me deixa.Eu só tenho vc...fALA comigo...
Parecia que ia explodir de tanta dor.





















Me colocou numa poltrona velha da fábrica e me fez deitar em seu peito.Vivíamos melancólicos como que se previssemos um triste fim , mas este fim ainda estava distante.O empurrei rasgando seus lábios com as unhas, enquanto mordia minha boca.De repente lasquei um tapa na sua cara.Ele me soltou rápido, mas feroz.
- Eu sinto fome de vc...Queria te devorar todinha!
Foi andando de costas até sumir de mim:
- Eu te gosto muito e nunca vou te esquecer...Nunca...nunca...
Fiquei sem ação enquanto ele limpava o sangue da boca.
- Mesmo que um dia não saiba mais o seu nome.
- Por que diz isto? Como não saberá mais o meu nome?
- Mesmo que não saiba nem o meu.
Comecei a chorar.
- Páraaaaa! Não fala assim.Voc sempre será o Fábio e eu a Silmara.Aquela que te amou.
Só que ele não me ouviu e foi embora por muito tempo.














Ele estava com a noiva no carro e eu descia a rua.Meus passos foram diminuindo como as batidas do meu coração.Acho que morri naquele instante.Pulei na sua cara pedindo que parasse, mas quase me atropelou, virando a esquina.
Me descabelei toda.Chorei alto.Muito alto.Chutei o chão.Puxei os cabelos e senti a dor da traição inteirinha dentro de mim!
















Eu peguei rubéola e fazia muito tempo que a gente não se via.Entramos dentro da fábrica em silêncio porque já era quase dez horas da noite e ninguém podia saber que estávamos ali.Acendemos as luzes e nos abraçamos muito forte num beijo estrelado.Caímos nas estôpas e Fábio queria me passar a mão debaixo da blusa.Então começou a luta corporal.Eu não queria.Já estava arrependida de estar ali com ele porque se quisesse me catar não teria ninguém para me socorrer.Ele transpirava frio.Que corpo, meu Deus.Era um deus.Peludo, bundudo, gostoso...
- Vou te fazer feliz...
- Por favor, não.
Me pegou no colo e me jogou dentro do tanque.
- Vou te fazer...feliz...aqui...
Esperniei, escorreguei pelo seu corpo e cai na sua boca faminta e tarada.
- Vamos conversar, Silmara.Eu amo vc.
- Fico contente por isto.
Eu não conseguia relaxar.Tinha medo.Era nova ainda.Não tinha ninguém.
- Fábio, espera.Eu nunca namorei.Esculta.Aquela história de Betinho, Samir...era tudo mentira minha.Eu sou virgem.
- Eu sei. - fungava.
- Porque vc tá assim? Tá estranho.Páraaaa! Seu olho tá revirando.Vc tá se sentindo bem? Fala comigo...Pára de gemer.
Corri me escondendo atrás de um fardo.Silêncio.Comecei a engatinhar pelo chão quando de repente me pulou nas costas feito um bicha louca.
- Surpresaaaa!
E consegui fugir saindo pela porta da frente feito um raio.Não tive notícias dele.Fiquei espionando atrás do muro e ele demorou um pouco para apagar todas as luzes e passar o cadeado na porta.





















Passou com o carro entupido de estopa e me botou pra dentro num puxão de braço:
- Vamo comigo.Rápido.Entra!
No meio do caminho parou o carro atrás do Clube Juventus.
- Por que parou?
- Nada.Tô com tontura.Preciso dar um tempo.Só um tempinho.
Nisso meteu o dedo num prégo e o meu banco despencou .
- Aiiiiii, o que foi?
-Calma.É só uma deitadinha de nada.
- Vc tá fazendo desse carro um motel, Fábio.Levanta essa joça.
- Que neorose.Relaxa, bebê.Vamos conversar...Me fala de vc.
- Eu não quero falar nada.Quero ir pra minha casa.Anda! Já!
- Não mesmo.Chama a tua mãe agora, chama. - ria com o cigarro na boca.
- Traídor.Vou chamar a polícia, isso sim.O que vc quer comigo?
- Um filho seu.Brincadeira!
Também deitou o seu banco, tragando o cigarro até o toco:
- Já pensou se a gente se casasse, Silmara?
- Que papo furado é este? Este lugar tá deserto.Pra onde vc me trouxe, seu tarado?
Chutei sua buzina e arranquei um tufo do seu cabelo chanelzinho.Mordeu a minha bochecha e pisei no seu pé, quase arrancando a unha.Rolamos dentro do carro.Meti o pé na porta e caí na calçada.
- Sua antipática do caramba!
- Vou embora a pé...Liga esta merda, já.
- eu só queria te fazer feliz, mas já que não quer, tudo bem.Um abraço!
E deu partida no carro comigo correndo atrás feito uma louca!



















Entramos dentro de um caixote de madeira no fundo do estacionamento da fábrica, rindo feito dois bobos.
- Como é bom amar vc! É tão linda! Tão feminina...
Seguramos nossas mãos bem forte.
- De todas as meninas que eu conhecí, de todas as idades e jeitos, a que eu mais amei foi você!
Me envolveu pela cintura e me beijou no pescoço.Sua cabeça estava apoiada no meu ombro e ficamos ali por minutos sem fim.Me sentia pura como nunca havia me sentido antes.De repente o assobio do seu pai.O grito:
-Fábiooooo, vem descarregar esse caminhão.
O corre!
- Vai lá.Depois a gente se vê.
- Eu te amo, Silmara.Sério.De verdade.Eu juro! Vc rí?
Eu ria porque não tinha noção que iríamos chorar e muitooooo!






















Enfeitamos a rua com bandeirinhas coloridas e flores pintadas por guache.Fui até o orelhão e liguei para a sua casa.
- Fábio...- minha voz era um sussurro.Eu tremia toda só de falar o seu nome.
- Silmara????!
- Fábio, vem aqui na rua me ver.Vem...
- Tô indo.
Subiu a viela com muita rapidez e ficamos nos olhando, mudos.
Era tempo de Copa do Mundo; de gol, de samba.Fizemos faixas coloridas e bandeirolas
3x4.Nossa rua parecia um picadeiro.Peguei um galão de tinta verde e outro amarelo pintando em frente a fábrica de estôpa enquanto me observava:
- EU TE AMO - 1982
Foi uma revolução e me senti feliz.















Ouvi a voz do Fábio no corredor da sua casa e fui correndo lhe ver.Nem toquei a campanhia.Subi os degraus em rumo ao seu quarto. Parei na porta e nossos olhares se cruzaram depois de tanto tempo perdido.
- Estava pensando em você agora, Silmara.
Caminhei alguns passos e sorri diante dele.
- Saudades de vc, Fábio.Onde vc táva? Quase morri.Nunca mais apareceu, caramba! VC é louco? Por que fez isto? Falaaaa...
- Desmancha esse namoro ridiculo, Silmara.Fica comigo!
Engolí as lágrimas e deitei no seu peito.
- Eu não posso.Preciso de alguém.
- VC tem eu.Pra quê mais? Casa comigo!Eu te amo tanto, tanto, tanto...
- Vc já tem noiva.Tem um vício.É diferente de mim, mas não me abandona!
E choramos abraçadinhos.





















Eu descia no bar todo instante para comprar algum cacareco.Hoje virou um Shopping de tanto que gastei naquela época.A fábrica continuava sozinha e o caminhão guardado no estacionamento, apodrecido no tempo.
Estou morta.
O meu olhar está sem brilho e me sinto incapaz de sorrir!

( 1982)














Morta de sede bati na sua porta pedindo caridade.Iria implorar que ficasse comigo.Queria colo; que me embalasse num sonho colorido.Havia me ensinado tudo de bom e no entanto havia me abandonado no escuro.Covarde!
Disparei a campanhia da sua casa feito uma louca:
- Por favor...chama o Fábio pra mim...Por favor!
Sua mãe sorriu porque me conhecia somente da rua:
- Ele viajou com a namorada.Foram pra Santos semana passada.Quer deixar recado?
Recado? Simplesmente que eu estava morrendo de saudades.


















Fábio sumiu por alguns dias.Numa noite chuvosa resolvi lhe procurar no colégio onde estudava.Eu queria vê-lo só para pedir perdão.Queria ter certeza de que ainda existia.Que não era apenas uma alucinação. Entrei em todas as salas do colégio Plínio Barreto e percorri corredores sem fim. Sentei-me numa carteira velha e chorei feito uma criança mimada que sabia ter perdido o seu doce preferido!
















Encostei-me no muro esperando o famoso Fuscão Preto.No horário certinho, Fábio subiu a viela todo engomadinho fedendo á perfume barato.
- Demorei no banho.O nosso namorado já chegou?~
- Deixa de ser intrometido, garoto.
- Nossaaaa, ele tá atrasadão, hein?
- Odeio vc.
- Não faz mal.É para o seu próprio bem, garota.Será que ele não vem? Justo hoje que ia pedir pra pagar uma pízza.Uma pizza vai bem, né? Vc gosta?
Virei o rosto balançando o pézinho.
- Não sei pq te dou tanta tréla.
Me sentia suja por dentro.Estava me sacrificando numa novela sem sentido.
Silêncio.
- Vcs se gostam, né? Responde, sua...sua...descarada.- riu.
- Que te interessa?
- Ele já te beijou na boca?
- Aiii, como ele tá demorando.
Num gesto rápido puxou o meu pescoço com força e me beijou a boca com agressividade.Foi o nosso primeiro beijo.
- Vc é minha, tá ouvindo?
Fiquei sem ação.
- Ebaaa, ele vem vindo.Olha lá o fuscão na esquina.Corre, menina.Agarra o pescoço dele e some daqui.
Peguei a varroura lhe tascando a testa:
- Someeeeeee! Encosto.
- Vc já é feia, brava então é horrível! Desse jeito vai ficar encalhada.
Sacudi sua camiseta pela gola.
- Prefiro ficar encalhada do que ficar com alguém como vc. Ridículo.
- Vc tá me ofendendo...
- Fumetaaaaaaaa!
- Bagulho.
- Eu amo o meu namorado.Vc não é nada perto dele.
Nisso abaixou os olhos, sério:
- Tá certo.Então fica com ele.Vai lá.É todo seu.
Virou as costas e foi embora.Nunca mais apareceu.Já havia anoitecido e procurei por todos os cantos, mas ele não estava.
- Fábio, cadê vc...O fuscão preto tá chegandooooo.Vem!
Teria que namorar sozinha e assim eu não queria.O desespero foi me torturando e quase enlouquecí.Estávamos só eu e o meu namorado.Mas faltava o meu marido!






















Comecei a namorar em casa com um cabelereiro que mais parecia um cofrinho coin-coin.Tinha banha até no branco do olho.Morria de desgosto e me mordia de raiva todas ás vezes que aparecia com aquele topete turbinado.O namoro já táva fazendo Bodas de Ouro, mas nunca havíamos nos beijado.Só na testa.Eu precisava dele para esquecer o Fábio.Quando apontava na rua com o seu fuscão preto, segurando a porta numa mão e o pneu no pescoço, Fábio aparecia do nada feito um terremoto.
- Oi, beleza? Quem é vc?
- Sou o namorado da Silmara.
- Ah, até que enfim ela desencalhou.
Eu queria morrer.
- Esta caranga é sua? Bacana! Demais.- dizia já entrando dentro do carro.
- Pô, vamos dar uma volta nós três.Entra ai, Silmara.VAMO chupar um sorvete pra comemorar.O seu namorado paga, não paga? Sabe, sou irmão de criação dela e a tia Maria só deixa a Silmara namorar comigo na cola, entendeu, né?
E lá íamos nós.Todos as noites saíamos nós três pra Paes de Barros e nunca consegui ser beijada pelo namorado porque o Fábio ficava de vela.
- Vc não se incomoda, não né? É costume familiar.
- Tudo bem, Fábio.Tudo bem.

Chegou em casa e parecia drogado.Um vazio imenso me dominou a alma e lhe servi um café bem quente.Fazia caretas e enxergava um barquinho na parede.
- Cê tá besta, é? O que tá acontecendo, hein Fábio?
Ria muito e me balançava pra lá e pra cá.
-Pára.Tô ficando zonza.
Encostou-se na parede e chorou numa gargalhada medonha.Via bicho, muito bicho.Só não via a minha tristeza e a minha dor.Estava perdendo vc!











Ele me lambeu o rosto, assoprou o cabelo e cochichou no ouvido.
- Não sou nenhum malandro, meu anjo.
Levantou o meu queixo com um dos dedos.
- Me dá uma beijoquinha, vai Silmarinha.
Estávamos dentro da boléia do seu caminhão e caia a maior chuva lá fora.
- Não se atreva a colocar essa mão pecaminosa dentro de mim, Fábio.
Ele riu:
- Dentro de vc?! Como assim, dentro de vc? NÃO vou te fazer o papanicolau, não.Só quero um beijo de verdade.
Cruzou os meus braços no peito montando em cima da minha barriga.Mordi suas mão com tudo e ele ria.Ria de babar.Soltei um grito estérico e o pessoal da fábrica saiu na porta chamando o seu pai.
- O que tá acontecendo aqui, hein? Larga a menina, Fábio.
Foi o maior mico.Ajeitei o cabelo e desci da boleia com cara de bunda.
- Só entrei ali dentro, Seu José, porque estava procurando a minha bola.
- Sei.- e rindo- Cuidado pra não achar, hein? Casa com ele, Silmara.O menino tá carente.- e se beijaram num gesto explícito de amor.













Subi as escadas da minha casa rebolando com um palmo de saia e mascando um chicléts.Nem percebi a sua presença insignificante.
- Aonde vc vai com esta roupinha ridícula e com essa cara leviana?
- Vou ter uma conversinha com a sua noiva.O nome dela é Sandra, né? Sandrão para os íntimos.Sei.TÔ sabendo!
- O que vc vai falar com ela? Tá louca?
- Vou fazer mais amizade.Afinal de contas temos muitas coisas em comum.
- Ela não presta, sabia? Se eu te pegar com ela...
- O que acontece, machão? Ela é uma piranhuda e eu quero aprender a ser do mesmo jeito.Não é assim que vc gosta, então.
Nisso me deu um tapa na boca e corri pro colo da minha mãe que pendurava a roupa no varal.
- O que aconteceu, Fábio? Porque ela tá chorando?
- Segura esta menina, dona Maria.Ela me tira do sério.Se eu souber...
Eu abraçava a minha mãe só mexendo a boquinha pra ele ver:
- Vou fumar maconha com ela.
E ele tentava me dar cascudo enquanto minha mãe punha ele pra correr.
- Sai daqui, Fabioooo.Vou contar pro seu pai.
-Ele é louco, manhê.É louco! - e mexia os lábios, rindo.
- VOU.AH, se vou!
O olho dele virou uma luneta.
- Eu te mato, Silmara.
Mostrei um palmo de língua e bati a porta na cara dele.























Sentamos no degrau da fábrica e parecíamos dois moleques travessos.Fiz cara de gente grande, empinei o dedo em sinal de discurso e empolei:
- Eu queria te dizer um negócio que tá engasgado aqui dentro de mim.Um negócio que tá tirando o meu sono e me deixando nervosa.
- Já sei.O primeiro amor é assim mesmo. A gente sofre pra caramba, mas eu vou ser compreensivo com vc. Sou um cara experiente e já passei por isto quando tinha a sua idade.Vai dizer que gosta de mim...Fala logo, docinho.
- NÃO, vou dizer que não gosto da sua maconha.E se vc não se cuidar, docinho, vou ficar viúva antes da hora.
Seu sorriso fingido foi se desfazendo e corou.
- Tá tudo bem.- abaixou os olhos.
- Vou dizer também que apesar de ser uma idiota, sou também sua amiga.Se precisar de mim, estamos ai.
Devagarinho foi se aproximando e apertou a minha mão na sua, numa única energia.Éramos casados e já sabíamos.

















Ficou rodeando a porta do meu colégio com um cacareco que chamava de moto.Eu estudava na escola Monte Serrat e quando percebi sua cabeçona na esquina, abracei o primeiro moleque que passou por mim, lhe tascando um beijo na cara:
- Aiiiii, querido.Vc tá demais! Te ligo depois.
Coitada de mim.Nem telefone eu tinha.Era uma durenga do caramba! Me encarou arrancando com tudo:
- Idiota mesmo. Vim buscar a minha namorada.Ela estuda aqui.
- Nossa como esta escola tá esculachada.
- Depois que vc se matriculou aqui, minha filha.
- Ah, é? É mesmo seu burguesinho do caramba!
Peguei um pedaço de pedra e corri atrás dele para lhe acertar o cocoruco.




















Entrou em casa com tudo trancando a porta com a chave.
- Grita agora, gritaaaaaa! A chave tá no meu bolso.
Arregalou os olhos e sorriu dum jeito malicioso.
- É agora ou nunca.
Me prendeu na parede e passei por meio da suas pernas.Grudou na minha cintura e rolamos pelo chão.Eu queria tudo com ele, mas sentia medo.Tudo que eu falo se resume num beijo.Aliás, um beijão.Beijão de língua.Eu nunca tinha beijado alguém.Será que o Fábio tinha um trabuco peludo embaixo das calças? Não, ele não. Deveria ter a coisa mais gostosa do mundo porque ele era todo amor!
Subi em cima da mesa e ele fez o mesmo, rindo.
- Vc é casca grossa, hein?
Sua risada começou a ganhar peso e mal conseguia engatinhar.Ria e babava! Babava e ria!
- Não vou te machucar.Só quero um beijo seu.
Meu coração tava na boca. Me espremeu feito um purê de tomate.Fiz beicinho, empinei os lábios na sua direção e chorei:
- Não chora.É só um beijo.Deixa de ser miserável...
Fingi que ia grudar o meu beiço no seu e quando estava quase ali, lhe dei um muque na boca que arrancou sangue.
- Aiiiiii! Filha da mãe.
Fechei os olhos e coloquei a boca no mundo:
- Socorroooooooooooooooooooo!
A vizinhança apareceu todinha no muro e ele fugiu com 50 pernas.











Sua namorada parecia uma caixa de sabão em pó.Desceu a rua com um tamanquinho brega e com a boca que parecia um trombonete gritava:
- Aparece aqui Fabião.Vamo fazê mais um filho.
Parou em frente a porta da fábrica com o estilete na mão:
- Vc vai me desprezar agora que já comeu, é?
Ele colocou só a cabecinha do lado de fora enquanto ela amolava o estilete no poste.
Eu tremia feito taquara.Fábio me olhou.Abaixei a cabeça.
- Vc sabia que ele é o meu noivo? - gritou para mim.
Continuei em silêncio.
- Estou esperando um filho dele.Isto ele não te contou, né?
Ele já não me contava muitas coisas que na verdade nunca irei saber.



















Eu estava ainda com um quilo de serpentina no cabelo quando aquele verme passou por mim rebolando a carcacinha.
Me escondi debaixo do muro e lhe taquei uma golfada de água na fuça.
- ÊEEE, viva o carnaval! - cantarolei.- O pierrô apaixonadoooooo...
Levantou os olhos trincados de desprezo.
- Vai brincar com gente da sua idade, pivete.
- Ai, idoso! Vc é um velho rabugento.
- Não gosto deste tipo de brincadeira.
- Ah, vc não gosta, é?
E então abri mais a torneira lhe dando um banho da cabeça aos pés.Mirei bem no cigarro entalado dentro da sua boca e apaguei a brasa num jato fulminante.
- Vivaaaa!
- Filha da mãe!
Pulou o muro e me pegou ali mesmo no degrau da minha casa.Rolamos no chão aos gritos.A vizinhança apareceu na janela.Acodeeeee!
Nos encaramos com os corpos molhados e suados:
- Vc vou pular carnaval, né? Eu te disse que não era pra ir.Fogueteira!
Levantou-se, pegou o toco do cigarro ensopado e meteu no canto da boca.




















Resolvi ir ao cabelereiro e empestiei a cabeça de Bobs.Todas ás vezes que me olhava no espelho do salão tinha vontade de chorar.Esperei que anoitecesse para sair na rua só de medo que o Fábio pudesse me encontrar naquele estado lamentável.Saí grudada nos postes e fui caminhando lentamente na escuridão.A fábrica já estava fechada e não tinha uma viva alma dando sopa.Quando abri o portão da minha casa, pé ante pé, ele pulou na minha frente me dando um susto:
- Pegueiiiii!
Mas quando me viu com aquele cabeção enrolado, caiu pra trás gritando:
- Socorroooooo, é a mulher do saco!
- Mulher do saco é a sua mãe!
Nisso pulou o muro rindo até babar.Ele ria até babar mesmo.Eu me lembro disto.Limpava a boca com o punho da camiseta.Depois acendia mais um cigarro achando muita graça em tudo.Fábio era feliz, porém me fez a pessoa mais infeliz do mundo!






















Todo mundo tá com alguém, menos eu.Maldita sociedade.Maldito dinheiro.Por que será que ninguém me quer? Nem minha mãe me quis...Odeio todos vcs!
Um dia disse que me amava...Agora nem se lembra de mim.













Precisava arrumar outro namoradinho de araque pq o Paulo era muito sonso.Ninguém se impressiionava com o nosso romance e o próprio Fábio ria de nós;
- Engrena logo, Paulo.Força, rapaz!
- Não se mete na nossa vida, garoto.Cuida do seu noivado que eu cuido do meu.
Droga, quem seria a próxima vítima? Não demorou para que aparecesse um tal de Flávio no pedaço e cai com tudo em cima dele.Era só charme!
- Vamos jogar voley, Flávio? Vamos ali em frente a fábrica de estôpa pq aqui a bola cai no bueiro.E eu gritava feito louca:
- Aiiiii, pega esssa.Upa! Vaiiiiii!
Até que o picareta saiu na porta todo entupido de estopa.Só dava pra ver o olho.
- Que bagunça é essa na minha porta, hein? Vc está atrapalhando o nosso trabalho, Silmara.Vai jogar na sua porta.
- Não enxe o meu saco.Vc não é o dono da rua.
- Se a bola cair aqui eu vou furar, tá ouvindo?
Nisso o Flávio, que não era sonso, me defendeu:
- Ô Fabião, dá um tempo aí, meu.
Adorei.Chupa que é doce.
Fui bem pertinho dele sussurrando:
- Vc já conhece o FLÁ? Ele não é o Paulo, não meu filho.Aqui o buraco é mais embaixo.
- Vc tá parecendo uma galinha.Vou falar tudo pro seu pai.Namorar comigo ele não deixou, né? Agora ficar se esfregando com um e com outro, pode, né?
Fiquei roxa.Peguei a bola de taquei com tudo no meio da sua cara.Rodopiamos na calçada; dois passos pra cá e dois pra lá.
- Galinha é a sua irmã.Descarado!
Dois pra cá e dois pra lá.Nos encaramos.Ele sorriu:
- Casa comigo...
- Um dia, quem sabe.

















Estávamos sentados na calçada da minha casa:
- Agora vc tá namorando o Paulo, né?
- Que isto, Fábio.Ele é um carrapato.Vive me chamando, mas eu não quero nada.Tenho mais três carinhas na minha.Um tal de Betinho, de Samir, de...de..Esquecí o nome.
-É, vc não quis namorar comigo, né?
-Vc não é noivo?
-Só ás vezes.Sou apaixonado por uma garota, mas ela não d´um pingo de valor.
-Sério??! Chega junto.- sorri.- Ela deve ser bonita, né?
-Muito. - sorriu.
- Sei.Vc precisa se declarar mais.Falar o que sente.Ser verdadeiro com ela.Não pode ficar com outras mulheres.Tem que se decidir.- piscava os olhos, feliz da vida.
- Eu já me declarei uma vez.
- Eu lembro deste dia.- segurei a sua mão.
- Como vc se lembra?
- Ora, como.Deixa de ser tímido, Fábio.Se abre logo.
- Como vc sabe se ela não mora aqui?Ela é da minha classe, Silmara.
Quase quebrei todos os seus dedos.
- Bacana.Da sua classe? Legal.Tenho que ir, falô? O Paulo vai chegar daqui a pouco e não gosta de me ver conversando com qualquer um na rua.O Cara é firmeza, entendeu, né? FIrmeza como poucos e acho que vamos nos casar.Feliz Natal.
- Feliz Natal? A gente tá no começo do ano...
- É que acho que não vou te ver mais.Falô ai.
















Sai logo cedo com um saco velho a procura de gatos abandonados.Depois do almoço o Fábio me chamou de cima do caminhão:
- Mara, um beijo!
E pela primeira vez retruquei, sorrindo.
- Vem me ajudar, preguiçosa.
- Tenho que me poupar para logo mais á noite.
- E o que vai acontecer á noite?
- A noite tudo acontece.Paulo e eu.Eu e Paulo.
Ele soltou uma gargalhada:
- O Paulo é crente.Nunca beijou nem o travesseiro.
- Vamos aprender juntos.Ele é crente, mas não é bobo.
- Cuidado, hein? A mãe dele vai obrigar vc a se casar com ele.Principalmente se ele engravidar! - e ria feito um idiota no cio.
- Só se for de vc, seu gay.
Sai a noite ao chamado do Paulo.Estava toda EMPIRIQUITADA:
- Oiiii, querido.Tudo bom com vc?
E o Fábio lavava o carro só de pescoção.Eu falava bem alto:
- Vc está lindo, Paulo.Me fala sobre nós.Como percebeu que estava apaixonado por mim?
E o trouxa do Paulo falava muito baixo.
- Fala mais alto.Não estou ouvindo.Como?! Quer me beijar na boca??! - e o Paulo não entendia nada- Nossaaaaaa, como vc é rápido, hein? Pega leve!
Fábio esfregava até a calçada com um olho no peixe e outro no gato.
- Vamos dar uma volta, Paulo?
E ele concordou com a cabeça.Era um sonso.
- Mas de carro, querido.Com o seu carro.Pega lá.Quero chupar um sorvete.
Enquanto ele corria todo iludido com a chave na mão, eu encarava o Fábio.
- Vcs vão passear de carro? - engoliu em seco.
- Claro, ou vc pensa que só vc tem carro aqui na rua? O Paulo tem uma Brasília branca, lindaaaaaa! Ele trabalha e pode pagar um sorvete.Até um saco de sorvete.Não é igual a vc que é empregadinho do pai.Um durenga.
- Durengaaaa?! Tá bom.O meu pai é empresário, minha filha.
- E vc é o empregado dele, meu filho.Ou melhor, o escravo dele.Não tá pagando nem a luz.Dá um tempo vai.
E ele desligou a mangueira retrucando:
- Dá um tempo vc. Só fala abobrinha.Rico é o seu pai, né?
- Pelo menos não é pão duro igual ao seu.Aquele miserável do caramba!
Fábio bateu o portão na minha cara e entrou.Barulho do motor do carro do Paulo chegando.Que raiva!
- Vc demorou muito, Paulo.Agora meu pai não deixa mais eu sair, tá? Thau.
E entrei sem olhar para trás.Fábio fofoqueiro!

















" Saco, agora ele nem olha na minha cara.Passou por mim duas vezes e não disse A.Tem um carinha aqui na rua chamado Paulo, ele tem uns vinte anos, é todo sério e ontem me entregou um bilhete estranho.Quando comecei a ler, virou as costas e saiu andando.Estava escrito que eu era ainda muito criança, mas que estava apaixonado por mim e que iria me esperar o tempo que precisasse.Haaaaaa? Deus coloca os trouxas nos momentos certos.Esse seria o meu "namoradinho" de araque.Como assim? Saca só:
- Fábioooooo, vem cá.
- Não posso.Meu pai saiu e tô tomando conta da fárica.Hoje é o meu dia de patrão.
- Deixa de ser idiota e vem aqui um pouco.Só um pouco.
Ele veio com cara de desânimo.
- Fala.
- Sei que somos amigos há muito tempo e eu queria te pedir um favorzinho.
- Eu não tenho grana.Meu pai não me paga nada aqui.Por enquanto, né? Porque quando me casar vou escolher uma dessas casas e um dos carros também.
- Ótimo.Que bacana.Fico feliz por vc, mas enquanto este dia não chega,me escreve uma carta de amor?
- Eu escrever uma carta de amor pra vc?! Silmara, eu sou um rapaz comprometido, não viu a minha noiva? Ela é brava pra caramba!
- Eu quero que vc e ela se explodam! A carta é de amor, mas para o meu amor.Seguinte: estou apaixonada por um alguém aí e preciso me declarar de um jeito mais romântico.Como vc é estudado, pensei que poderia escrever para mim.
- Eu estou cursando engenharia.A escritora aqui é vc.
- Fábio, eu disse que estou apaixonada, vc entendeu?
E ele coçou a cabeça preocupado com o assobio do pai.
-Depois a gente conversa.Meu pai chegou.Tenho que carregar o caminhão.Um beijo.
- ÓOO, o nome dele é Paulo.Não esquece.
E nisso mostrei com o dedo o portão da casa do cara:
- É o Paulo, entendeu? O Paulão tá na área, tá? Se liga, viu? - pisquei um olho.



















" Agora a tarde eu conversava de penhuar com a minha amiga Silvia no portão de casa quando o Fábio saiu na rua acompanhado por duas meninas.Quase enfartei e uma delas tinha uma tatoo enorme no braço, chamando o meu amor de amor.Como assim?!
- Sabe aquela morena bonita, Silmara? É a noiva do Fábio.
Engoli em seco e paralizei, tentando falar alguma coisa.
- É gorda.
- Deve estar grávida.Vai se dar bem. Só pode ser o golpe da barriga.
- Acho que ele não pode nem ter filhos...É doentinho.
- Até parece! Ouvi falar que ela tá prenha.
Como pôde me enganar daquela maneira? Que golpe baixo!Eu era tão diferente dela! Seus olhos eram de mulher vivida; pintados e esbugalhadoscomo se estivessem falando um palavrão cabeludo o tempo todo.
Não conseguia tirar os olhos deles e principalmente daquela pecadora:
- Fábio, o que aquela magrela perdeu aqui? Vc conhece ela?
Nisso ele me olhou como quem olha um nada:
- Não.Deve ser nova aqui na rua.Vamo nessa!
E assim sairam rindo de mim.Fiquei esperando o sem vergonha passar de volta.Já estava escurecendo quando ele voltou:
- Fábio, vem aqui, por favor.- sai de trás do poste.
- Aiiii, que susto! Oi, Silmara.Tudo bem?
- Seu idiota.O que vc disse pra'quela galinhona de encruzilhada?
- Nada.Não estava me referindo a vc.
- Vc nunca vai se referir a mim mesmo, seu otário.Eu te prego a mão na cara, tá ouvindo? Na tua cara e no beiço daquela piranha de peruca!
- Nossaaa, que ciúmes que vc sente de mim, hein?
- Páraaaa.Não se valorize tanto assim.Vc é um safado, sem vergonha e mulherengo.
- Depois a gente conversa, tá linda? TÔ cansado.O dia foi cansativo pra mim, sabe? Vc ainda não entende sobre isto.Quando crescer mais vai saber do que estou falando, tá? Beijossss, linda.Preciso repor as energias.Fica com Deus.
E apagou a luz da sua garagem me deixando no escuro.
- Eu te mato, desgraçado! Malditooooo! Vou contar tudo pro seu pai.
Ele nem ligou.Fechou toda a casa me deixando plantada na calçada como um pé de couve.

09 de fevereiro de 1981
7/30 da noite- ventinho fresco


















Chuta daqui e dali e a bola caiu no telhado da Danana.Nisso o Fábio apareceu na porta da fábrica só pra meter o pitaco:
-Ê molecada perna de pau! Só podia ser mesmo a dona Silmara...
Pegou o bambu e veio ao nosso encontro.
- Pode parar.Não precisamos de vc pra nada.Eu mesmo pego.
E muito metida subi no muro com tudo e fiquei dependurada com uma perna só.
- Quer que eu te ajudo? - ria.
- Não precisa.Me deixa.
E quanto mais eu me mexia, mas ficava dependurada.Rasguei a calça e suava frio naquele sol de lascar.
- Eu te pego.
- Fica longe de mim, seu tarado!
- Eu vou almoçar, tá? Qualquer coisa então me dá um grito.
E quando já estava fechando o portão da sua casa, gritei quase num miado:
- Fábiooooo, me tira daqui!
E ele veio com aquele jeitinho manso.
- Segura no meu pescoço.
Fui deslizando lentamente no seu corpo suado e sujo de estopa até que nossos lábios se tocaram pela primeira vez.Ele me abraçou forte, sussurando no meu ouvido num italiano ofegante:
- Io te voglio benne!
- Me solta.
- Eu te amo.
E me soltou indo embora.EU também o amava mais do que tudo na vida!

02 de fevereiro de 1981
7 horas e 45 minutos - noite-
segunda-feira/ calor






















" O amor é lindoooo, meu Deus.Este é o dia mais feliz\da minha vida! Eu jogava bola com a molecada da rua e o Fábio estava descarregando o caminhão de estopa na nossa cara.Nem olhei pra ele.Nisso a bendita bola bateu na porta do seu caminhão e ele desceu pra fazer uma graça com ela:
- A Silmara é tão sonsa que não sabe nem dar um toquinho.
- O único toquinho que eu dou é na sua cara de palhaço.
- Nossaaaaa, como vc é agressiva.Não é a toa que veio do interior, né? Lá a mulherada tem bigode e fala grosso.
- Vc tá confundindo com a cidade da tua mãe, seu Mané!
E a molecada ria até babar.Foi feito um ring : dum lado eu e meus amigos e do outro o Fábio e os puxa-saco da fábrica.
-Essa menina tá encalhada, pessoal.Eu sou louco pra tirar ela da solidão, mas tem medo da mamãe.Nunca beijou, nada.É uma mulher frígida.Mulher-macho, coitada!
Frígida? Caramba? Nunca tinha ouvido esta palavra.
Nisso um santo vendedor que saia do seu escritório dei um grito, do nada:
- Fábio, vc tem coragem de falar que esta gatinha é mulher-macho?1
- Pudera eu ter um macho deste em casa!
E ligou o carro, sorrindo pra mim:
- Vc tem telefone, gatinha?
Eu ria pelas ventas.Fábio perdeu o rebolado me fuzilando com os olhos:
- Ela engana bem, Marciel.
- Só se for vc, pq eu levava pra casa!
A molecada começou a vaiar e eu mandava eles calarem a boca.
Quando o carro do coroa virou a esquina, Fábio veio ao meu encontro;
- Não se iluda, viu.Ele é casado e...bebe todas.Cê vê, já tava de porre!
- Como ele se chama? - coloquei pimenta.
- Dunha!- sorriu -Aquele que te arrancou a peruca com a unha.
E todo mundo soltou uma gargalhada :
- Olha o Fabião tá com ciúmes.Tá com ciúmes! Ciuminhoooooo!
- Esta magrela é minha e ninguém tasca.
Virou as costas indo para dentro da fábrica de estopa enquanto eu xingava:
-Ah, acabou a brincadeira bando de mariquinha.E fui pra minha casa soltar um grito de alegria.Aquele narigudo também era meu, todinho meu e nem a morte nos separaria.




















"Fábio miserável.Não sei porque o amo tanto.Acho que fez macumba com a minha calcinha pendurada no varal.Meus pais foram ao médico e estou aqui com minha gata Corina, aquela que levo pendurada no ombro feito um macaquinho.
Ele sentou-se ao meu lado com aquela carinha linda demais;
- Quer casar comigo? Tenho carro pra gente passear, uma casinha pra gente morar, muito amor pra te dar...- sorriu cantarolando.
- E um par de chifre pra me pregar.- terminei a estrofe com uma reboladinha.
E caímos pra trás, rindo como dois bobos.

29 de janeiro de 1981
10 horas da noite- sexta-feira - calor

















" Ontem logo cedo eu estava de papo furado com a vizinha e ela perguntou pra mim:
- Você não namora?
- Magina.Com quem? - joguei o verde pra colher o maduro.
- Aqui no bairro não tem um que preste.O Fábio, por exemplo, é bonito, tem dinheiro e não dá futuro.É muito mulherengo! Mexe com as moças da fábrica e trabalha quase pelado.E elas dão bola.É o filho do patrão, né?
- Nossa, e eu não sei? TÔ fora.Nem faz o meu tipo.É narigudo,fede cigarro e só fala abobrinha.Quero um rapaz de fora.Intelectual, sabe?
Não,ela não sabia que no fundo estava dominada de tanto amor!

18 de janeiro de 1981 -
2 horas e 59 minutos - domingo de chuva



















" Que calor! Cheguei da escola, tomei um banho gelado e corri para o portão.DE repente ele subiu a viela mexendo com a minha gata Corina.
- NÃO assusta ela, Fábio.A Corina tá no cio.
- Vamos conversar...- me encarou.- Sobre nós...
- Nós?! O que tem nós?
- Vc quer namorar comigo, Silmara?
- Não.
- Como assim?!
- Porque vc namora Deus e todo mundo.
- Mas eu só gosto de uma pessoa...
-De vc mesmo!
E virei as costas morta de felicidade.Este tava no papo!"

São Paulo, 16 de janeiro de 1981
10 horas da manhã
sexta-feira - nublado -

"Eu acabei de levantar da cama e o boneco do Fábio já estava com a cara na janela da minha casa:
- O que vc quer logo cedo, hein?
- Me empresta um fósforo?
- Como vc é pobre, meu!
- Faz parte da vida.Sou pobre e não tenho vergonha por ser assim.
- Que papo furado.Só isso?
- Não.Eu vim te ver, boba.Vc não acha legal eu te ver logo cedo toda descabelada?
- Não, não gosto nem um pouco.
- E o meu beijo?
- Não tem beijo nenhum.Vc acha que aqui é a casa da sogra?
- Acho.Da minha sogra.Um dia vc vai se arrepender de me tratar assim.Vai querer um beijo meu...e eu não vou poder lhe dar!"


São Paulo, 15 de janeiro de 1981-
10 e 45 da noite -nublado- quinta feira - calor
É verdade.Hoje eu sonho com um beijo seu e vc não pode dar porque está morto.

Fundação Cassiano Ricardo II

Fundação Cassiano Ricardo

Ação na Escola da Lagoinha