
Sai logo cedo com um saco velho a procura de gatos abandonados.Depois do almoço o Fábio me chamou de cima do caminhão:
- Mara, um beijo!
E pela primeira vez retruquei, sorrindo.
- Vem me ajudar, preguiçosa.
- Tenho que me poupar para logo mais á noite.
- E o que vai acontecer á noite?
- A noite tudo acontece.Paulo e eu.Eu e Paulo.
Ele soltou uma gargalhada:
- O Paulo é crente.Nunca beijou nem o travesseiro.
- Vamos aprender juntos.Ele é crente, mas não é bobo.
- Cuidado, hein? A mãe dele vai obrigar vc a se casar com ele.Principalmente se ele engravidar! - e ria feito um idiota no cio.
- Só se for de vc, seu gay.
Sai a noite ao chamado do Paulo.Estava toda EMPIRIQUITADA:
- Oiiii, querido.Tudo bom com vc?
E o Fábio lavava o carro só de pescoção.Eu falava bem alto:
- Vc está lindo, Paulo.Me fala sobre nós.Como percebeu que estava apaixonado por mim?
E o trouxa do Paulo falava muito baixo.
- Fala mais alto.Não estou ouvindo.Como?! Quer me beijar na boca??! - e o Paulo não entendia nada- Nossaaaaaa, como vc é rápido, hein? Pega leve!
Fábio esfregava até a calçada com um olho no peixe e outro no gato.
- Vamos dar uma volta, Paulo?
E ele concordou com a cabeça.Era um sonso.
- Mas de carro, querido.Com o seu carro.Pega lá.Quero chupar um sorvete.
Enquanto ele corria todo iludido com a chave na mão, eu encarava o Fábio.
- Vcs vão passear de carro? - engoliu em seco.
- Claro, ou vc pensa que só vc tem carro aqui na rua? O Paulo tem uma Brasília branca, lindaaaaaa! Ele trabalha e pode pagar um sorvete.Até um saco de sorvete.Não é igual a vc que é empregadinho do pai.Um durenga.
- Durengaaaa?! Tá bom.O meu pai é empresário, minha filha.
- E vc é o empregado dele, meu filho.Ou melhor, o escravo dele.Não tá pagando nem a luz.Dá um tempo vai.
E ele desligou a mangueira retrucando:
- Dá um tempo vc. Só fala abobrinha.Rico é o seu pai, né?
- Pelo menos não é pão duro igual ao seu.Aquele miserável do caramba!
Fábio bateu o portão na minha cara e entrou.Barulho do motor do carro do Paulo chegando.Que raiva!
- Vc demorou muito, Paulo.Agora meu pai não deixa mais eu sair, tá? Thau.
E entrei sem olhar para trás.Fábio fofoqueiro!
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