
Que raiva, meu!Queria morrer de catapora! Só que não podia verbalizar sentimentos negativos.E se voltassem contra mim achando que era demais naquela família? E se abrissem a porta num pontapé certeiro me mostrando o caminho da roça? Tinha que ser perfeita; maravilhosamente admirável, linda, leve e solta.Parecia uma boneca de corda com frases feitas:
- Bom dia, titia.A senhora está linda!
- Jesus te ama, titio.Seja feliz!
Inheca, que puxa saco.Mesmo assim ficava no "vermelho", devendo paparicos.
-A Silmarinha é uma boa menina.Nem parece que é adotada.- rosnavam pelos cantos.
A-do-ta-da.Eu odiava essa palavra.E pra piorar a situação toda eu era adotada e pobre.Aliás, uma pobre idiota que dependia de uma caixa de roupas doadas para ser feliz.A touca de lã era da prima Denise, o casaco da Mimi e a calça da Cocó.Morava de favor com a minha tia Etelvina e sabia de cor que havíamos saído do interior de São Paulo para tentar a sorte na cidade grande.Meu pai era porteiro de uma fábrica, minha mãe dona de casa e eu, simplesmente eu, era a filhinha feia do galinheiro
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