
Demorou algum tempo para eu descobrir que ser "filha do coração" significava muito mais do que ser a mais amada.Significava ser a coitadinha, a "sem teto", a excluída...Áquela pobre criaturinha esmiliguida que foi abandonada ao relento.
- E cheia de feridas pelo corpo todo.- completavam com os olhos em lágrimas.
- Você foi achada num galinheiro purguento...
- Sua mãe era uma louca.Ela te trocou por um saco de banana.
Caracas!Eu deveria ser a filha da macaca Chita.Ainda se fosse por um saco de maçã argentina ou de morango silvestre...Mas de banana?! Que mulher mais pobre do mundo.Comecei a sentir raiva daquela história sem pé e sem cabeça e principalmente daquela mãe esfomeada.
Os priminhos queridos, que de queridos não tinham nada, alfinetavam:
- Sua mãe era uma louca.Tinha um monte de namorado.Ficava com todos os homens da cidade.Acho que você era filha do gerente do banco.
- Que nada.Fiquei sabendo que era do carteiro.
- Vai sabê.Ela era uma galinhona!
Enquanto eles riam eu fingia rir também, mas por dentro a minha barriga dava um nó como se tivesse uma mariposa voadora dentro das próprias tripas.
Então fazia de tudo para ser aceita por cada um deles.Para que não percebessem que minha estirpe era diferente.Que na verdade era filha do vento! Do vento, do raio, do tsunami...Do temporal todinho, já que minha mãe era uma mulher muito dada.
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