
A minha primeira paixão, daquela forte e arrebatadora, foi pelo meu primo Marcelo.Tínhamos quase a mesma idade e éramos muito próximos, mas ao mesmo tempo tinha um abismo entre nós.Marcelo era rico e eu uma Zé Mané do caramba sem eira e nem beira que não sabia quem era a própria mãe.Só que demorou para me cair a ficha.No final do ano passávamos as festas no sítio da sua família, em Pardinho, e eu me sentia como se fossemos carne e unha.Andávamos a cavalo, mergulhávamos na piscina e ríamos muitooooo.Morríamos de ciúmes um do outro e rolava um clima; um clima platônico.Nunca lhe disse nada, mas meus olhos falavam tudo.Até que numa dessas viagens estávamos no carro da minha tia Nídia, irmã do meu pai e sua avó, quando alguém comentou para a minha surpresa;
- O Marcelo podia casar com a Silmarinha, né?Eles se dão tão bem!
E ela, na mesma hora, me fez escorrer uma lágrima pelo canto do olho, quando retrucou com muita raiva;
- Você tá louco, né? Tanta menina bonita e rica, como ele...Menina do Morumbi, filhas de empresário; do clube Paineiras onde ele treina todos os dias...Você acha que o Marcelo se casaria com uma menina que veio (sei lá de onde)?
Então engoli aquele choro salgado como que se estivesse com um giló na goela e procurando sorrir, murmurei num miado porque estava sem forças para falar:
- Pára, que bobeira.Eu gosto de um menino da minha escola.O nome dele é...é Leonardo.
- Ahhhh, bom.E o que a família dele faz?
- O pai de Leonardo é funcionário público.
Nisso eu e Marcelo nos olhamos e acho que tudo acabou naquele instante.
Então minha tia sorriu aliviada sem perceber que eu chorava em silêncio.
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