
Sabe aquela manhã que vc acorda com todas as rugas do mundo pregadas na sua cara? Pois é, e ai vc passa rapidamente pelo espelho do quarto e percebe que está a um passo de se tornar uma mulher baranga toda entupida de banha e pensamentos pré históricos.Hoje, exatamente nesta manhã que deveria ser linda por natureza já que moro em Ubatuba , estou com vontade de mirar o mundo e meter um pontapé bem no meio do fiofó de cada um.Nossaaaa, que pessoa estressada!- vc pode pensar de mim. Mentira.Não sou estressada.Tenho voz de gata no cio, pele de menina moça, sorriso de lagarto no sol...Mas tenho veneno da veia correndo a todo vapor e muitas vezes acordar numa manhã maravilhosa na cidade de Ubatuba é um porre porque, simplesmente porque, tenho Aids, falo nisso todo dia nas palestras que dou nas escolas e comunidades e que também tenho meus momentos de raiva: por que eu tenho que tomar essa sacola de remédio? Por que o meu sangue é diferente( é como o Kinder Ovo: tem uma surpresinha dentro).Queria tanto doar meus orgãos; falar da Aids como se fosse a doença da outra pessoa; ignorar as ultimas notícias sobre uma vacina milagrosa;transar com o meu próprio marido sem aquela camisinha oleosa...Queria ser uma mulher comum, mas não sou.Não porque sou portadora do vírus HIV ( que denominação idiota.Parece que sou uma alien), porém por trabalhar todos os dias dando o meu depoimento para as pessoas se conscientizarem de que a Aids é uma epidemia e que qualquer pessoa que passa por uma situação de risco, ou seja:
- transa sem camisinha
- compartilha droga injetável
- é amamentado por alguém contaminado
- recebe sangue não testado
pode ter uma surpresinha também, como eu e 40 milhões de pessoas tiveram.Pense nisso.A minha luta não pode ser em vão, pois muitas vezes dei uma palestra com imensa vontade de dizer:
- Gente, o meu nome não é Silmara Retti.Sou a dona Terezinha.A Silmara é outra pessoa.Uma idiota que resolveu escrever um livro e expor sua vida a milhares de pessoas.Eu com certeza, nem a conheço!
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